quarta-feira, 16 de abril de 2008

O início

No início, tudo era apenas coisa. Coisas brancas, amarelas, coisas verdes e vermelhas, todas espalhadas sobre a mesa como se não houvesse ligação nenhuma entre elas. Tão diferentes umas das outras, que nem sequer pareciam combinar. O formato de uma não se encaixava no da outra. O cheiro daquela se sobressaía e dominava o ambiente deixando todas as coisas tímidas pra trás, ocultas. Como idéias que teimam em não ligar-se umas às outras, as coisas também ficavam ali. Apenas ficavam.
Logo em seguida, uma grande explosão. E tudo que era apenas coisa passou a chamar ingrediente. Um impulso elétrico entre neurônios de alguém que, sabe-se lá por que, resolveu juntar aquelas coisas que antes lhe pareciam sem nexo, transformou cada coisa em um ingrediente. Cada qual com sua cor, seu cheiro, sua textura, seu valor. E as coisas, assim como as idéias, começaram a fazer um pouco mais de sentido. A ter objetivos na vida, a almejar uma posição, uma situação melhor, um destaque. Não era mais apenas o cheiro que lhes conferia notoriedade. A cor poderia ser um diferencial. O sabor ou mesmo a textura poderiam dar a determinado ingrediente a posição que tanto almejava. Mas tudo dependeria da receita. Essa personagem interessante, muitas vezes desrespeitada, determinaria a posição de cada ingrediente. Quem deveria destacar-se, quem estaria ali apenas como coadjuvante. A receita colocaria cada qual no seu lugar.
Como toda esssa parafernália precisava ser organizada foram criados os banquetes. Cada receita produzia uma comida, cada comida com sua função. Todas juntas criariam o banquete. Refeição, cá entre nós, para facilitarmos as coisas. A refeição traria consigo as conversas, discussões sobre coisas, que se tornam ingredientes, que são organizadas e geram novos banquetes. E não são apenas banquetes gastronômicos, mas todos os assuntos têm lá suas coisas, que podem ser transformadas em ingredientes dos mais diversos banquetes. Claro que alguns serão indigestos, outros federão até ninguém mais conseguir ficar por perto, mas todo banquete começa simples, a partir de coisas que parecem não ter nenhum nexo.
Foi assim, também, meu recente início no mundo dos blogs. Coisas sem nexo juntaram-se. Um pequeno impulso elétrico deu nome a essas coisas e colocou-as em ordem. E de repente eu espero poder apreciar um belo banquete eletrônico. Dispostos sobre a mesa estarão ingredientes dos mais variados possíveis. Claro, glutão como sou, terei maior prazer em saborear idéias sobre alimentos, ou meu lado jornalista teimará em fazer críticas mal embasadas sobre a idéia alheia. Porém, espero poder saborear aqui os mais sinceros pensamentos sobre todas aquelas coisas, aparentemente sem nexo, que acontecem durante minha vida.

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