terça-feira, 15 de julho de 2008

O café e a língua

Quantas utilidades tem a língua?
Alguém saberia responder a essa pergunta?
Serve pra tanta coisa que eu mesmo não arriscarei. Tentarei apenas falar das utilidades que mais conheço, que com mais frequência me servem.
Ultimamente tenho trabalhado bastante com café. Não apenas o cafezinho do dia-a-dia, aquele que a gente coa e toma, num hábito já banalizado pelo costume da sociedade. Mas do café como negócio, como riqueza, como produto de um país, como gerador de empregos, como iguaria fina, como especialidade. Tenho estado em contato com grandes especialistas do ramo. Da produção à divulgação do café, acredito ter conhecido ao menos um grande nome mundial, passando por torrefadores, baristas, traders, provadores, classificadores, pesquisadores, todos os envolvidos nessa complexa cadeia, que de banal tem apenas o nome "café".
De tanto contato que nos últimos meses tive com esse mundo, não é de se estranhar que comece a enxergar o café como algo especial, não como um hábito banal. E por ser especial, as diferentes variedades apresentam diferentes características, como o gosto (que pra mim é a mais importante).
O café, ao enconstar na língua, produz uma série de sensações que podem ser prazerosas ou não. Na verdade isso é muito relativo, pois o que é prazer para mim pode não ser para você. Agora o que não é relativo é a questão físico-química da coisa. Os sabores amargo, doce, salgado e azedo (ou ácido) são reais e existirão independente da minha, ou da sua, preferência. Li em um livro outro dia que há mais um gosto, o do Glutamato (Sal da Ajinomoto). Mas como não sei nada sobre isso prefiro deixar de fora.
Li em outro livro que os cafés preferidos dos Europeus são os que têm uma característica mais ácida. Exatamente a mesma característica dos cafés colombianos e dos encontrados no Sul de Minas (quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?). Já os cafés da região Mogiana, no Estado de São Paulo, são mais doces, assim como os do Cerrado Mineiro (triângulo mineiro). Eu particularmente prefiro esses.
Voltando à questão da língua, comecei a tentar sentir o que os provadores sentem quando bebem o café. Passei a observar quais regiões da minha língua o café atinge quando bebo. E não é que funciona mesmo!?! Consegui sentir nos cantos da língua a sensação ácida do café Sul de Minas. Na ponta a sensação doce do Mogiana. No fundo o amargo, que no caso dos cafés que experimentei era bem suave.
Achei muito interessante essa sensação. Não consigo mais beber um café sem antes brincar com ele na boca. Deixar ele preencher a boca de forma que estimule todos os sensores que tenho e explodir em sensações e experiências.
Posso dizer que tem sido bastante prazeroso trabalhar com cafés. Um aprendizado e tanto, mesmo sendo um pouco monótono.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Muito Bom!!!

Esse mereceu ser copiado. Dêem uma lida e comentem, por favor!

02/07/2008

PELA COZINHA SEM FRESCURA -A CAMPANHA ESTÁ DE VOLTA
Pela cozinha punk. Três acordes: arroz, feijão e bife.
Instintos básicos, básicos instintos, como num show clássico.
Senhores mestres cucas, senhores(as) chéfs metidos(as), por favor, devolvam meu arroz com feijão, tenho pressa, posso?
Devolvam meu arroz com feijão e fiquem com os seus molhos cítricos, tâmaras, figos, berinjelas, lichias...
Arroz, feijão... no máximo um bife por cima, a mistura possível.
Pela gastronomia punk, três acordes, na pressão.
Projeto Orígenes Lessa: o feijão e o sonho. Deu gorgulho na utopia mas o apetite está são e salvo.
Arroz, feijão e aquele ovinho estrelado, quente, derretendo, que nossas mães tão bem colocavam por cima de tudo, como um cobertor sobre as nossas pernas _hoje bem maiores e abestalhadas, correndo para o nada.
Chega de nouvelle cuisine, chega de gororoba pós-tudo, esse fetiche da classe média por qualquer fraude de grife.
Esses molhinhos, vôte! Qualquer canto que a gente chega, nego vem com nove-horas, até nos piores botecos já temos molhinho de fruta sobre nosso pobre bife.
Por favor, devolvam o meu pé-sujo.
Devolvam o meu bife ileso, minha chuleta, minha costela, meu torresmo.
Pela cozinha três acordes.
Pela cozinha “faça você mesmo”.
Pelo livre arbítrio da larica.
E viva o “arroz-de-puta”, o prato feito a partir das sobras completas da geladeira.
De sofisticado, apenas a buchada de bode, que de tão nobre está mais para a alta costura, estilo John Galliano, do que para a arte dos pratos. Nesse item do cardápio, a linha que tece o bucho, que por sua vez veste os miúdos, é pura classe, manto de Penélope.
Arroz.
Feijão.
Bife.
No máximo um ovo por cima.
A harmonia estrelada, materna ou da moça que ainda acredita nos dotes. Aceita tíquete?
Chega de molhinhos enganosos. Cozinha é feito mulher: ou já vem molhadinha por desejo ou nos aplica um belo orgasmo fingido!
Escrito por xico sá às 20h38 em "o carapuceiro" - blog da UOL
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Corinthians e pernil... é hoje!

Hoje tem jogo do Corinthians, hoje a noite, daqui a pouquinho. Sim, sou corinthiano para aqueles que não sabiam, e estarei lá. Corinthians X Marília, 10º rodada do campeonato brasileiro série B.
Esse blog busca representar o papel de uma mesa, daquelas que costumamos ter na cozinha/copa/sala de casa. Local onde costumamos fazer nossas refeições, onde costumamos fazer as contas e entrar em desespero todo final (ou início) de mês, onde algumas vezes, dada a voracidade dos casais... deixa pra lá. Enfim, esse blog funciona como uma mesa, local onde além de tudo idéias são trocadas, assuntos são debatidos, discussões são travadas. Não tem funcionado muito bem, há na verdade um monólogo mais que uma conversa. Entretanto, assim como Corinthians e brasileiros, não desistirei.
E voltando ao tema proposto hoje, jogo de futebol, lembrei-me dos famosos sanduíches de pernil da porta dos estádios. Hummmmmm....
Faz uma bela sujeira, não tem higiene garantida, mas resolve. Mata a fome que é uma maravilha, e se der sorte ainda vai contar com uma parte bem temperada e poderá degustar uma iguaria única, porém comum.
Preço baixo, quantidade alta. O Sanduíche de pernil não é aconselhável, mas quantos você conhece que nunca comeram? Isso me lembra outra coisa... mas deixa pra lá.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ovo Frito

O bom e velho ovo frito fez parte hoje de minha refeição. Acabo de voltar do almoço, um belo "PF de bife" dos mais caprichados e conhecidos pratos dessa cidade. Mas antes de falar do ovo frito gostaria de contextualizar a história toda.
É verdade que comer PF's na cidade de São Paulo, principalmente fora do centro, é coisa difícil e arriscada atualmente (ao menos leio por aí que antigamente eram melhores, eu não sei). Tenho experimentado alguns ultimamente e esse me pareceu, ao menos até o momento, dos melhores da região. Tempero sem exageros, pós-refeição satisfatório, atendimento informal e bem atencioso. Nada além e nada menos do que espero de um boteco que serve PF. O atendimento, inclusive, foi o grande responsável pela participação do ovo frito no meu almoço de hoje.
Decidi dar esse título ao post de hoje pois PF é PF todo dia. Arroz, feijão, bife e salada de alface, tomate e cebola (e bota cebola nisso). Ao contrpario do trivial, estava eu decidido a repetir meu cardápio da semana passada, quando a senhora que me atendeu perguntou: "Quer ovo no PF?"
Pensei por alguns segundos, lembrando das conclusões de que seria o óleo da batata frita que dificultara minha digestão em outras experiências com o PF paulista, mas ao lembrar que havia muito não comia ovo frito, respondi: "Quero, por favor!"
Acho que foi a resposta mais acertada que dei nos últimos dias. Que delícia é o ovo frito, com gema mole, despedaçado em cima do arroz. Lembrei de tantos outros ovos fritos que já fizeram o meu prazer. Lembrei de pães com ovos, variação do mesmo ovo frito, com os quais também já me deliciei outras vezes.
Enfim, queria somente homenagear a simplicidade e grandeza que tem o ovo frito. Protagonista de tantas refeições por esse vasto país continental, humilde componente (e muitas vezes único) das marmitas de muitos dos trabalhadores brasileiros, mas que também faz deliciosa combinação com o arroz e perfeita harmonia com o bife.
Bendita seja a senhora que propôs, sem gigantes intenções, um ovo ao meu PF.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Adoro o modo como como os sabores e os cheiros me mandam de volta ao passado, a alguém ou algum momento da minha vida. Sempre tive essa relação com cheiros, principalmente com perfumes. Era sentir um determinado perfume e lembrar de alguém. Mas não falo simplesmente em lembrar que a pessoa existe, falo em sentir as sensações do momento (ou momentos) vivido com essa pessoa, indiferente de serem bons ou maus momentos, são sensações nítidas que voltam à tona. Acredito que muitos conseguem sentir o mesmo, na verdade espero que consigam. São sensações muito interessantes, embora às vezes um pouco doloridas.
Com as comidas costuma funcionar do mesmo modo. Ao comer um frango ensopado com polenta, por exemplo, impossível não lembrar da minha avó materna matando as galinhas no terreiro da fazenda, do cheiro da galinha sendo literalmente escaldada para depois perder as penas e se tranformar naquela iguaria que ela sabia fazer à beira do fogão a lenha. Graças a Deus minha mãe herdou o talento. Por aí vai. Aromas e sabores têm esse poder, me levam a essa viagem completamente incontrolável a lugares inusitados.
Passada a "sessão dejavù", chego onde quero realmente chegar (desculpem o pleonasmo, mas achei necessário). Estive em uma festa junina no sábado. Muito bacana, diga-se de passagem. Bacana até demais, vale ressaltar. Mas o que realmente me importou e chamou a atenção nessa festa foram os sabores e sensações que reexperimentei. Cachorro quente, kebab, crepe, doces e salgados. As comidas típicas da festa sem dúvida me levaram de volta à infância, ao sentimento de "festejar sem motivo", somente por que aquele dia é dia de festa.
É sempre muito bom relembrar as coisas boas da vida (e viva o pleonasmo). As comidas, as danças, as brincadeiras. Vendo as danças, comendo as iguarias juninas, reforço minha compreensão sobre o quanto a infância é importante na formação da pessoa, e mais importante ainda, consigo enxergar um pouco melhor o que foi a minha própria infância. Por que às vezes acho que foi uma merda. Outras vezes acho que foi uma maravilha. Na verdade, como para a grande maioria dos seres humanos mortais (hoje ele está me perseguindo), tiveram coisas boas e ruins. O problema é que eu, sendo egocêntrico como sou, sempre sigo a tendência de achar que é diferente.
Mas viva os sabores da vida que nos abrem os olhos do estômago!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Quase me esqueço...

Quase me esqueço que tenho um blog...
Há alguns meses decidi colocar um pouco mais de mim no mundo virtual, por meio dessa ferramenta interessante chamada blog, postei no primeiro dia e nunca mais voltei, quase como o IBGE na música dos Racionais (faz tempo essa hein).
Mas, como todo bom filho, cá estou. Agradecimentos à Eliane, que sem querer me lembrou da existência desse espaço virtual, ao me indicar seu próprio espaço. Obrigado Eliane.

Discursos e agradecimentos à parte, vamos ao que interessa.
Mas afinal, o que é que interessa neste espaço? Ainda não tomei uma decisão concreta sobre os temas a postar, deixar vago também não em soa tão interessante. Tentarei manter a linha dos prazeres da mesa, mesmo que nesse caso (como em muitos outros nesse mundo moderno) sejam prazeres virtuais.

Ultimamente tenho cada vez mais certeza que devo voltar-me à gastronomia o mais rápido possível. O prazer que sinto ao cozinhar, seja arroz com feijão ou qualquer outra receita mais complicada (não muito pois ainda não cheguei lá), supera de longe os prazeres que tenho com outros trabalhos. Parece que o mundo pára, que existem apenas ingredientes, panelas, calor e transformação. A sensação de sentir-se completo, útil, no lugar certo (embora nem sempre no momento certo, maldito timing) traz essa certeza e a vontade de melhorar meus conhecimentos e prática culinária.
Ainda assim, o jornalismo é área pela qual tenho uma paixão à parte. A pesquisa, o dinamismo, a expressão com a palavra escrita sempre me fascinaram. O jeito vai ser juntar os dois. Jornalismo e gastronomia. Nada mal pra que gosta de prazeres... será um prato cheio, literalmente!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O início

No início, tudo era apenas coisa. Coisas brancas, amarelas, coisas verdes e vermelhas, todas espalhadas sobre a mesa como se não houvesse ligação nenhuma entre elas. Tão diferentes umas das outras, que nem sequer pareciam combinar. O formato de uma não se encaixava no da outra. O cheiro daquela se sobressaía e dominava o ambiente deixando todas as coisas tímidas pra trás, ocultas. Como idéias que teimam em não ligar-se umas às outras, as coisas também ficavam ali. Apenas ficavam.
Logo em seguida, uma grande explosão. E tudo que era apenas coisa passou a chamar ingrediente. Um impulso elétrico entre neurônios de alguém que, sabe-se lá por que, resolveu juntar aquelas coisas que antes lhe pareciam sem nexo, transformou cada coisa em um ingrediente. Cada qual com sua cor, seu cheiro, sua textura, seu valor. E as coisas, assim como as idéias, começaram a fazer um pouco mais de sentido. A ter objetivos na vida, a almejar uma posição, uma situação melhor, um destaque. Não era mais apenas o cheiro que lhes conferia notoriedade. A cor poderia ser um diferencial. O sabor ou mesmo a textura poderiam dar a determinado ingrediente a posição que tanto almejava. Mas tudo dependeria da receita. Essa personagem interessante, muitas vezes desrespeitada, determinaria a posição de cada ingrediente. Quem deveria destacar-se, quem estaria ali apenas como coadjuvante. A receita colocaria cada qual no seu lugar.
Como toda esssa parafernália precisava ser organizada foram criados os banquetes. Cada receita produzia uma comida, cada comida com sua função. Todas juntas criariam o banquete. Refeição, cá entre nós, para facilitarmos as coisas. A refeição traria consigo as conversas, discussões sobre coisas, que se tornam ingredientes, que são organizadas e geram novos banquetes. E não são apenas banquetes gastronômicos, mas todos os assuntos têm lá suas coisas, que podem ser transformadas em ingredientes dos mais diversos banquetes. Claro que alguns serão indigestos, outros federão até ninguém mais conseguir ficar por perto, mas todo banquete começa simples, a partir de coisas que parecem não ter nenhum nexo.
Foi assim, também, meu recente início no mundo dos blogs. Coisas sem nexo juntaram-se. Um pequeno impulso elétrico deu nome a essas coisas e colocou-as em ordem. E de repente eu espero poder apreciar um belo banquete eletrônico. Dispostos sobre a mesa estarão ingredientes dos mais variados possíveis. Claro, glutão como sou, terei maior prazer em saborear idéias sobre alimentos, ou meu lado jornalista teimará em fazer críticas mal embasadas sobre a idéia alheia. Porém, espero poder saborear aqui os mais sinceros pensamentos sobre todas aquelas coisas, aparentemente sem nexo, que acontecem durante minha vida.